De pai para filhos: irmãos assumem comando de propriedade e aprimoram produção

A sucessão no campo ainda é um tabu para muitos produtores, mas o sucesso dessa transição depende da profissionalização da atividade e da transparência com que pais e filhos tratam o assunto

Em uma propriedade situada no Assentamento Córrego da Lage, município de Mucurici-ES, os irmãos Thiago Soares da Cunha (31) e  Felipe Soares da Cunha (26) se prepararam e assumiram por definitivo as atividades diárias e passaram a dividir todas funções da produção de leite, que antes eram administradas pelo pai, Lourival Henrique da Cunha, hoje com 66 anos de idade.

Mas quem pensa que o sucesso chegou da noite para o dia se engana. Antes as limitações eram várias e uma delas essencial: a falta de recursos para investir de imediato. Mas foi no dia a dia de trabalho, vencendo cada obstáculo, que os irmãos Soares da Cunha foram aprimorando até que se tornaram referência em produção intensiva de leite.

Foi com base nas orientações de um profissional veterinário e assistidos pelo Programa Leite Certo, com o auxílio do engenheiro agrônomo, Filipe Sanglard, que eles saíram da produção diária de 20 litros e chegaram à casa dos 400. Atualmente, 25 vacas estão em lactação na propriedade apresentando média de 16 litros por animal.

A implantação de tecnologia no local aconteceu de forma branda. Uma das primeiras ações foi investir no melhoramento genético. Os irmãos passaram a fazer inseminação artificial no local e hoje contam com todo o rebanho formado por animais que nasceram na propriedade. “Começamos devagar com base nas orientações dos técnicos e hoje estamos colhendo os frutos. Depois de acertar a genética focamos em alinhar a alimentação do gado e o manejo. Esses foram os principais pontos para o nosso crescimento”, disse Thiago.

A área destinada para a atividade leiteira compreende 2.5 hectares de terra formados em piquetes, além de 4 de cana. Isso porque, após o grande período se seca que afetou a região, chegando ao ponto mais crítico nos anos de 2016 e 2017, eles optaram por passar os períodos de estiagem hídrica tratando os animais no cocho, à base de cana. “Cortamos cana diariamente e colocamos ureia para dar às vacas. Cada animal consome em média 35 quilos por dia. Depois fazemos a correção nutritiva com a oferta de concentrado direto no cocho. Nós compramos o fubá, a soja e o núcleo e fazemos a mistura da ração aqui mesmo, chegando ao ideal que buscamos. Após as vacas comerem, soltamos em outras áreas. Enquanto isso os piquetes ficam descansando para quando chegar o período de calor e as chuvas, lá por novembro e dezembro, a gente voltar para os piquetes já que a época é mais propícia para o desenvolvimento do capim”, completa Thiago ao afirmar que essa maneira de tratar os animais é mais viável financeiramente neste período do ano.

Propriedade preparada para maior número de animais

Um dos investimentos mais recentes feitos no local foi a aquisição de uma ordenhadeira mecânica. Antes, a construção de uma sala de ordenha nos devidos padrões, objetiva e eficiente, possibilitando aos produtores aumentar o número de animais em lactação e consequentemente a produção.

No dia a dia Felipe é quem toma conta da ordenha. “Hoje temos estrutura física para dobrar o nosso plantel leiteiro com a sala de ordenha e equipamentos novos, além de bastante comida para dar aos animais. Antes a gente demorava quase duas horas para tirar leite, o que fazemos agora com 20 minutos”, afirma o irmão mais novo.

Algumas bezerras e novilhas recriadas na propriedade, as que estão mais desenvolvidas, num futuro breve serão inseridas junto ao plantel leiteiro, ao invés de comercializadas. Isso para aumentar o número de animais em lactação. Já os machos que nascem ficam no local até que atinjam média de 6 a 7 arrobas para serem comercializados, completando a renda da família. O próximo investimento previsto é a construção de uma bezerreira modelo argentina.

Qualidade

Com a nova ordenhadeira mecânica, o leite já sai da teta do animal e vai encanado direto para o resfriador, garantindo mais qualidade do leite, uma vez que fica o mínimo possível exposto e com menos contato com outras estruturas.